A IMPORTÂNCIA DOS AVANÇOS TECNOLÓGICOS PARA O DESENVOLVIMENTO DA ODONTOLOGIA

A revolução digital que está em pleno curso no mundo é um fenômeno sem volta e impacta todos os setores.Quando pensamos a Odontologia em uma escala global, podemos destacar diversos avanços tecnológicos importantes, na última década. Segundo o Prof. Dr. Sérgio Antônio Pereira Freitas, um exemplo é a digitalização dos processos na área odontológica, que oferece aos pacientes um atendimento mais confortável, seguro e célere, possibilitando a execução de grandes reabilitações em curto espaço de tempo. “A radiologia digital que permite o envio imediato dos exames por imagem ao dentista solicitante, a tomografia computadorizada de feixe cônico que oferece reconstruções em alta definição de estruturas dentárias e de todo complexo bucomaxilofacial, o uso de scanners intrabucais que substituem as moldagens e geram modelos digitais manipuláveis, e os processos de reconstrução por fresagem ou impressão 3D, destacam-se como avanços importantes e já usados com certa rotina em algumas regiões do pais”, exemplifica Dr. Sérgio Freitas. Ainda de acordo com ele, associa-se a isso os planejamentos virtuais em dentística, ortodontia, implantodontia e cirurgia ortognática, possíveis com o uso de programas que associam exames por imagem, modelos digitais e fotografias ou escaneamento da face. “Esses métodos citados e avanços disponíveis permitem um melhor diagnóstico e planejamento, garantindo maior previsibilidade dos resultados”, explica. Questionado pela Odonto Nordeste, sobre como o mercado que desenvolve produtos voltados à área odontológica junto à academia e às demandas patológicas. Dr. Sérgio Freitas explicou que na verdade, a academia participa do desenvolvimento das novas tecnologias e as avalia, estabelecendo seus limites de uso baseado em informações técnicas, vantagens e desvantagens identificadas nas pesquisas científicas. “Os grandes fabricantes costumam disponibilizar seus produtos (equipamentos e softwares) em universidades e centros de estudo, permitindo o uso dos mesmos em projetos de pesquisa que avaliam suas capacidades, destacam suas virtudes e identificam suas limitações. Isso permite o constante aprimoramento dos equipamentos e suas tecnologias, somado evidentemente aos esforços das próprias empresas em seus laboratórios. Tudo isso cria uma rotina virtuosa de constante desenvolvimento das máquinas e programas, atendendo cada vez melhor as necessidades clínicas em Odontologia, disse o doutor em Odontologia.

Odonto Nordeste – A nível Brasil, as pesquisas e tecnologias acompanham o mercado internacional?

Dr. Sérgio Freitas -Em princípio é importante destacar que no mundo globalizado as novas tecnologias chegam com mais facilidade e celeridade em qualquer lugar. Evidentemente que alguns pré-requisitos são necessários, tais como um sinal de internet de razoável velocidade e estável, e pessoas treinadas para manipular as máquinas e trabalhar nos softwares. Os treinamentos estão cada vez mais fáceis e rotineiramente acontecem à distância, assim como os atendimentos de assistência técnica que resolvem a maioria dos problemas por acesso remoto. A carência de profissionais de assistência técnica, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, ainda representa a maior dificuldade após a aquisição de equipamentos de grande tecnologia, em virtude da demora na solução dos problemas e do alto custo de deslocamento desses profissionais. O acesso remoto às máquinas pela assistência técnica do Brasil e diretamente do fabricante no exterior, possibilita a resolução dos problemas de forma segura, barata e rápida.   Infelizmente, a tecnologia incorporada aos processos de Odontologia Digital e Robótica quase sempre são desenvolvidas nos grandes centros internacionais. Há em nosso país empresas que desenvolvem ou montam impressoras 3D e gradativamente dedicam seus esforços na melhoria dos fluxos em nossa área. Destacam-se ainda empresas de softwares de fluxos digitais em Odontologia. Algumas tecnologias nacionais, sobretudo na área de diagnóstico por imagem, têm sua qualidade melhorada ao longo dos anos.

Odonto Nordeste – O que podemos esperar nos próximos anos, em termos tecnológicos?

Dr. Sérgio Freitas – Como disse no início, a digitalização dos processos é um caminho sem volta. Não haverá como trabalhar em Odontologia dissociado da tecnologia. Os currículos dos cursos de graduação terão que se adequar a essa realidade, e os cursos terão que oferecer a rotina dos fluxos digitais a seus alunos. Os dentistas atuais terão que realizar atualizações e treinamentos nessa área. Evidentemente que a área afetiva continuará diferenciando um profissional do outro, a atenção ofertada ao paciente, a cordialidade nas relações, continuarão determinantes no sucesso profissional, isso não se discute. As vantagens do uso da tecnologia são inúmeras e as desvantagens são poucas. Destaca-se como desvantagem os preços elevados dos equipamentos e consequentemente do uso dos mesmos, mas a tendência é de gradativa redução. Portanto, o acesso à tecnologia será cada vez mais fácil e a Odontologia estará cada mais associada à digitalização e robotização dos sistemas.   

As tecnologias para a CTBMF

No que se refere às especialidades dentro da Odontologia, as tecnologias têm ofertado grande contribuição. Para o doutorando em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial pela Universidade de São Paulo, Dr. Rogério Bentes Kato, um dos exemplos é a cirurgia ortognática, onde há alguns anos ela era feita com um planejamento manual, puramente artesanal, quando era necessário serrar os modelos de gesso e remontá-los numa posição ideal para fazer os guias cirúrgicos. “Hoje em dia, o planejamento é todo feito virtual, onde a gente já tem conhecimento dos programas, de maneira que a gente possa planejar perfeitamente. E isso não só na ortognática, eu estou falando dela como exemplo, mas na maioria das reconstruções a própria implantodontia, os programas virtuais que geram guias cirúrgicos, eles são bem mais realistas do que na década passada, o que faz com que o cirurgião, o implantodontista consiga confiar e entregar esse planejamento de modo virtual”, descreve Kato. Assim como o Dr. Sérgio Freitas, Rogério Kato acredita que o avanço tecnológico que não é uma coisa passageira, trata-se de algo que veio para ficar, pois ajuda bastante na otimização do tempo de planejamento e consequentemente, em menor estresse transoperatório, no menor tempo de cirurgia e num melhor benefício para o paciente, que incha menos, sai mais rápido do hospital e recupera melhor.

Odonto Nordeste – Que tipos de patologias podem ser tratadas em clínica, pelo bucomaxilofacial?

Dr. Rogério Kato – Praticamente todas as patologias que forem encontradas na cavidade oral e áreas circunvizinhas podem ser diagnosticadas pelo bucomaxilo. Agora, o bucomaxilo só não pode tratar sozinho o câncer, tumores malignos. No caso, teria que fazer a dissecção junto com a o cirurgião de cabeça e pescoço e depois pode auxiliar o plástico, na reconstrução facial. Enfim, acredito que essa seja a única patologia em que o bucomaxilo não pode e nem deve agir sozinho. Também fica vedado ao bucomaxilo fazer qualquer tipo de manipulação sozinho, em glândulas salivares maiores. No caso, a gente até trata alguns cálculos que possam surgir no ducto dessas glândulas, mas tratá-las fica com o cirurgião de cabeça e pescoço que é uma área médica.

Odonto Nordeste – Há 8 anos, você concluiu mestrado em CTBMF, com foco no reparo ósseo por sistemas de fixação. O que mudou de lá pra cá?

Dr. Rogério Kato – Em relação ao meu mestrado, que teve como foco o reparo ósseo com sistema absorvível, infelizmente as coisas não evoluíram nesse período como a gente gostaria que evoluíssem. Eles continuam sendo um material muito caro e não tem a mesma rigidez que um material de titânio. Então, infelizmente ainda falta muita coisa, talvez o material de titânio seja tão bom que as empresas não se interessem tanto em aprimorar, talvez não tinha uma tecnologia capaz de concorrer em preço e eficiência, mas quem sabe daqui a algum tempo isso mude.

Odonto Nordeste – Já no doutorado, você desenvolveu uma tese sobre a participação das integrinas em microRNAS no potencial osteogênico de superfície de titânio com nanotopografia. Fale um pouco dessa pesquisa e dos resultados encontrados.

Existe na FORP-USP, lá em Ribeirão Preto-SP, uma linha de pesquisa no departamento de biologia, associado com o departamento de cirurgia e periodontia, onde se estuda há alguns anos uma superfície que foi desenvolvida pelo Prof. Paulo Tambasco e pelo Prof. Dr. Antonio Nanci (da Université de Montréal, no Canadá). É uma superfície de implante que têm características nanotopográficas, que em tese esse tipo de superfície estimularia a formação de osso, ou seja, a osteogênese. Então, vários estudos têm sido feitos em cima dessa superfície para comprovar que é uma superfície osteogênica. E um desses estudos foi a pesquisa do meu doutorado, onde o Prof. Márcio Beloti, que foi meu orientador, trouxe do seu pós doc essas avaliações em cima de microRNAS e integrinas, que nada mais são do que reguladores das expressão gênica, ou seja, apesar do organismo ter um codificação para expressar de uma forma mais acelerada ou menos a formação óssea, existem esses reguladores que vão ditar que velocidade, que quantidade, que qualidade esse osso é formado. Não só osso, mas inúmeras outras atividades do nosso organismo vêm a ser produzido osso, ou cartilagem. Enfim, a gente detectou que no final das contas a superfície que a gente estuda ela é sim osteogênica, consequentemente favorece a osseointegração por um menor espaço de tempo. Então, basicamente o meu doutorado foi para provar isso, tento como o fator biológico a cultura de células osteoprogenitoras. São células que diferenciadas, que eu cultivei em cima de disquinhos de titânio que tinha essa superfície em análise. Esse tipo de superfície na implantodontia já vem sendo pesquisado há alguns anos e tem bastante dados na literatura que cada empresa tem seu tratamento de superfície e algumas empresas de ponta tem seu tratamento nanométrico, que é o tratamento em escala manométricas, que é a superfície que estamos estudando. E já está bem descrito na literatura que a maioria dessas superfícies são osteogênicas, elas aceleram a formação óssea, seja devido a sua nano estrutura que favorece a mimetização, favorece a proliferação e diferenciação dessas células naquela superfície o qual mimetizam o ambiente celular.

5 – Na implantodontia, o que existe de mais avançado em termos de técnicas hoje, no Brasil?

Eu acredito que hoje em dia com esse mundo globalizado, a gente tem acesso a materiais e técnicas de ponta, como qualquer outro país, um mínimo de qualificação no seu quadro de profissionais e no seu quadro de indústria à nível nacional. Então, a gente não deve nada aos outros países, temos alguns dos melhores profissionais à nível mundial, publicamos bastante, fazemos pesquisa, então, em termos de técnica relacionada à implantodontia estamos n mesmo nível mundial. A gente tem bons materiais. E quando os materiais fabricados no Brasil não são tão bons assim, existe uma facilidade de importação de produtos americanos, europeus que são líderes mundiais no mercado. E com isso, o que tem de técnica de ponta se equipara às técnicas da Europa e dos EUA. Enfim, não temos nada a dever aos outros países na implantodontia.

Perfil

Prof Dr Sérgio Antonio Pereira Freitas

Especialista em Radiologia Odontológica e Imaginologia

Mestre em Ciências e Saúde

Doutor em Odontologia

Professor do Instituto Federal de Tecnologia do Piauí (IFPI)

Professor do Centro Universitário UNINOVAFAPI

Criador do Grupo de Estudos e Professor Coordenador da Liga em Odontologia Digital e Robótica (GOBOT) – Piauí (PI)

Atua exclusivamente na área de Odontologia Digital e Diagnóstico por Imagem (LatoSensu IMAGEM, UDI Odonto e TOMOS 3D)

Perfil

Prof. Dr. Rogério Bentes Kato

Possui graduação em ODONTOLOGIA pelo CENTRO UNIVERSITÁRIO DO PARÁ (2004) Mestrado em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial pela Universidade de São Paulo – Campus Ribeirão Preto (2010)

Doutorado em CTBMF pela USP-FORP.

Tem experiência na área de Odontologia, atuando principalmente nos seguintes temas: CTBMF, ESTOMATOLOGIA, IMPLANTODONTIA.

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